05 setembro 2015

Aylan al-Kurdi, a imagem que chocou o mundo

Foto: reprodução

Até aqui o mundo assistiu criminosamente inerte à tentativa de fuga dos conflitos armados de milhares de seres humanos, homens, mulheres e crianças, que se lançam ao mar em busca de um chão onde possam seguir suas vidas. Todos os dias, imagens percorrem os quatro cantos do mundo mostrando o desespero dessas travessias na busca pela sobrevivência, mas nenhuma delas simboliza com tanta e tão desgraçada força a tragédia dos refugiados como a que ilustra esta postagem. Na foto, clicada por um fotógrafo da Reuters na última quarta-feira (02/09), um menino aparece afogado depois da frustrada tentativa de chegar à ilha grega de Kos. Seu corpinho foi encontrado na costa da cidade de Bodrum, na Turquia, por oficiais da guarda costeira. Ele atendia pelo nome de Aylan al-Kurdi e tinha apenas três anos de idade.

Chocante ao extremo, a imagem ganhou as páginas dos jornais mundo afora. Para o britânico The Independent, flagrantes são um duro recado aos líderes europeus que tentam impedir que os refugiados se estabeleçam no continente, sem se importar com o número crescente de pessoas que morrem no desespero da fuga dos conflitos armados de seus países.

"Se imagens como essa não quebrarem a resistência dos europeus, o que mudará?", pergunta o jornal britânico, registrando que "entre as palavras muitas vezes loquazes sobre a 'crise da imigração em curso', é muito fácil esquecer a realidade da situação desesperadora enfrentada por muitos refugiados".

O The Guardian, outra voz importante na mídia internacional, escreveu: "O horror da tragédia humana nas margens da Europa aparece nas imagens do corpo sem vida de um jovem menino".

A imagem do pequeno Aylan sacudiu o mundo e serviu para lembrar que só este ano, mais de 2.500 pessoas morreram tentando cruzar o Mediterrâneo, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados - ACNUR.

Ativistas do Migrante Report, organização não-governamental sediada em Malta, tentando chamar a atenção sobre a perda de vidas humanas, custo imperdoável da crise dos refugiados, também publicou imagens de crianças mortas em naufrágios, numa intenção clara de comover a opinião pública internacional.

Mas não são apenas as imagens que podem fazer diferença nessa desesperada luta pela sobrevivência. A escolha das palavras também faz diferença. Afinal, estamos tratando de imigrantes ou refugiados?

Em artigo publicado na última quinta-feira de agosto na BBC, o professor Alexander Betts, diretor do Centro de Estudos de Refugiados da Universidade de Oxford e autor do livro "Sobrevivência de imigração: Governança falha e a crise do deslocamento" observa que a escolha de palavras pode ser determinante na busca de soluções para a crise de refugiados do Mediterrâneo.

"Enquanto os políticos e os meios de comunicação de forma inadequada caracterizam este (movimento) como uma 'crise de imigração', a esmagadora maioria das pessoas são provenientes de países produtores de refugiados", escreve o especialista, alertando: "A Europa tem uma história orgulhosa de proteção aos refugiados, tendo criado o moderno regime de refugiados depois do Holocausto. Esta tradição está sob ameaça".



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

Cadastre seu e-mail e receba nossas postagens

Blog Widget by LinkWithin