27 setembro 2014

Ministério Público Federal tenta calar Rachel Sheherazade

Rachel Sheherazade (foto: reprodução)

O Brasil é realmente o país dos contrastes. Com a população refém da violência, sem saúde, educação e transporte dignos, a classe política mergulhada na maior rede de corrupção de toda a história republicana, o Ministério Público Federal volta suas baterias contra um  comentário que a jornalista Rachel Sheherazade fez em fevereiro no programa SBT Brasil. Na ocasião, ela disse ser “compreensível” a atitude dos "justiceiros" que prenderam e amarraram um adolescente de 15 anos a um poste, numa espécie de justiça de mãos próprias, porque ele vinha praticando uma série de assaltos no bairro. Segundo o órgão, o comentário da jornalista defendeu a tortura ao estimular a ação dos “justiceiros” e também violou o princípio da dignidade humana.

Sheherazade terá que se retratar, e se não fizer, o SBT terá que pagar uma multa de R$ 500 mil diários. Além da retratação, o MPF quer que a emissora pague uma indenização de R$ 532 mil por dano moral coletivo. A mesma ação pede também que o governo federal fiscalize as emissoras de TV para evitar comentários como o de Rachel Sheherazade, numa autêntica patrulha contra a liberdade de opinião.

No vídeo abaixo, a jornalista explica, conclusão a que cheguei vendo a entrevista original, que ao contrário da interpretação do MPF, ela não se disse favorável ao justiçamento, mas, sim, que ele é até "compreensível" diante da omissão de autoridades, governos e políticos na entrega da segurança que o cidadão tem direito e merece, até porque prevista na Constituição Federal.




Sheherazade tem razão. A inércia, a omissão e a incompetência do Estado em combater a violência, acredito que ninguém pense o contrário, acaba gerando uma reação que pode não ser a mais aconselhável, mas que funciona como uma espécie de legítima defesa coletiva contra a violência que hoje agride a sociedade brasileira.

A iniciativa dos nossos "fiscais da lei" vai de encontro à liberdade de imprensa, e, na prática, tenta calar e perseguir quem se atreve a expressar um pensamento discordante daquele inserido no rol do "politicamente correto" traçado nos gabinetes do poder. Punir a jornalista, não é difícil concluir, é bem mais fácil do que resolver o caos social em que vive o Brasil de hoje. Aliás, se MPF fosse tão ágil e eficiente em relação à corrupção, não estaríamos presenciando o verdadeiro mar de lama de assola a Petrobras, por exemplo. É muita hipocrisia e falta do que fazer...






Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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