28 outubro 2012

Professora é demitida por divulgar fotos de escola alagada no Maranhão

No Brasil do faz de conta, aquele que o Governo Federal chama de "o país de todos", mostrar a verdade é proibido, principalmente se ela vai de encontro aos interesses de algum político importante, e mais ainda se esse  político integra o grupo de aliados dos Sarney.

Foi esse o pecado de Uiliene Araújo Santa Rosa, 24 anos, professora municipal demitida pela Prefeitura Municipal de Imperatriz - MA, porque teve o "atrevimento" de postar em uma rede social as fotos que mostram alunos fazendo prova embaixo de guarda-chuvas. As imagens causaram impacto e o caso ganhou repercussão na cidade. Além do afastamento, a jovem teve o seu contrato com o Colégio Municipalizado Guilherme Dourado suspenso. O secretário municipal de Educação, Zeziel Ribeiro da Silva, disse que a medida foi tomada porque a professora procedeu de forma errada.

Nas imagens divulgadas pela professora, além da sala de aula alagada, é possível ver os alunos se protegendo com guarda-chuvas da água que passava pelos buracos no telhado da instituição. Segundo Uiliene, a intenção ao publicar as imagens era chamar a atenção para os problemas da rede municipal. Uma das quatro fotos publicadas no Facebook já tem mais de 1.600 compartilhamentos e diversos comentários em apoio à professora e indignação diante da estrutura e atitude dos responsáveis pela unidade de ensino.

(Foto: Uiliene Araújo/Arquivo Pessoal)

- Não identifiquei o nome do colégio ou de qualquer funcionário da instituição, mas publiquei as fotos em meu perfil pessoal, pois acredito que não se deve ficar de braços cruzados diante de uma situação assim - disse a moça, esclarecendo que depois da divulgação das imagens percebeu que os colegas a tratavam de forma diferente.

(Foto: Uiliene Araújo/Arquivo Pessoal)

- Quando voltamos do feriado, percebi que os funcionários me olhavam de uma forma diferente e já não falavam comigo. Era por causa das fotos. Então começaram a boicotar minhas aulas. Não liberavam data-show ou televisão para que eu trouxesse material para os meus alunos, coisa que faziam para os outros professores - explicou Uiliene.

Ela esclarece, ainda, que a Secretaria de Educação providenciou os reparos no telhado da escola na mesma semana da divulgação das fotos. No dia 25 deste mês, no entanto, Uiliene recebeu um comunicado que anunciava o encerramento de seu contrato com a Prefeitura Municipal de Imperatriz por atos de conduta incabível.

(Foto: Uiliene Araújo/Arquivo Pessoal)

- Fui punida pela publicação das fotos e isso não é justo. É o tipo de coisa que acontecia na época da ditadura, mas estamos em uma democracia, não é? Ela (a diretora) não está agindo como uma gestora. Está tratando a escola como propriedade privada, mas a escola é de propriedade pública, é do município. Acredito na liberdade de expressão e em formar alunos com uma visão crítica, que não se conformem com as coisas do jeito que elas estão. Cresci vendo meu pai e meus professores reivindicando os direitos de educação e aprendi a dar valor a ela, então não poderia ficar de braços cruzados frente a essa situação - desabafou a professora.

Uiliene formou-se no ano passado e vai começar a dar aulas no ensino superior, mas não pretende abandonar a luta pela valorização da educação fundamental.

- Passarei a dar aula para o ensino superior, mas já dei aulas em várias escolas municipais desde a época da faculdade e sei o estado delas. Tenho um filho pequeno e fico pensando: será em um colégio como esse que ele terá que estudar? - pergunta a jovem.

Zeziel, o competente e atuante secretário municipal de Educação (pelo menos na área das demissões), claro, tinha que arranjar uma desculpa para o descaso da municipalidade com a escola.  Segundo ele, o episódio foi um fato isolado, causado por uma ventania ocorrida logo após a eleição, que destelhou a sala mostrada nas imagens. Ainda de acordo com ele, no dia em que as fotos foram tiradas uma prova seria realizada, o que não justifica a atitude da professora, que poderia ter evitado a situação procurando a direção da escola ou mesmo a Secretaria de Educação para denunciar o caso, explicação que não convence, já que a administração da escola é que deveria ter tomado as providências necessários para os reparos. Ou será que em Imperatriz, como anda acontecendo por todo o país, mas principalmente em Brasília, os "chefões" nunca sabem o que acontece ao seu redor? Aliás, o caso lembra a estudante catarinense Isadora Faber, de apenas de 13 anos de idade, que foi parar numa delegacia de polícia de Florianópolis - SC por ter denunciado as irregularidades de sua escola no "Diário de Classe", página criada por ela no Facebook. A verdade é sempre um incômodo, principalmente para os políticos, você não acha. Deixe o seu comentário.


G1



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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