30 março 2012

Família tenta enterrar parente há oito meses no Rio

Romildo de Souza sofreu um derrame e foi levado para o Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde ficou internado por dois dias, vindo a falecer em 9 de julho do ano passado. Até agora, por mais incrível que isso possa parecer, seu corpo continua no necrotério da unidade. É isso mesmo! Há oito meses a família tenta enterrar o corpo de Romildo, sem sucesso, tudo em razão da omissão, burocracia e descaso que cercam a prestação de serviços públicos ao cidadão, principalmente quando ele não vem das classes mais abastadas. Se for negro, então, tudo fica mais difícil.

Segundo os irmãos de Romildo, ele estava sem documentos quando morreu.

Eles explicam que um atestado de óbito chegou a ser emitido, mas não foi aceito pela funerária.

- O hospital liberou a declaração de óbito. Mesmo assim, não foi possível confirmar o sepultamento, pois não havia um documento com foto - explicou Roberto de Souza, irmão do rapaz.

Em julho do ano passado, com base em exames feitos nas impressões digitais, peritos emitiram um laudo comprovando a identidade de Romildo. No dia 11 de agosto, a justiça fluminense autorizou o enterro, que deveria ser feito em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. No entanto, vinte dias depois, a Defensoria Pública enviou um novo documento ao Judiciário, informando que a família queria que o enterro fosse realizado no cemitério Vila Rosali. Nesse mesmo documento havia a informação de que Romildo tinha sido enterrado no cemitério Santa Rosali.

- Saiu alvará, voltou alvará, erraram o nome do cemitério - lamentou o irmão.

A decisão da justiça, pasmem, só veio cinco meses depois, em 24 de janeiro, mas com um outro equívoco: o documento dizia que Romildo já havia sido enterrado. Para aumentar a dor da família, a mãe de Romildo morreu no mês passado, vítima de um derrame cerebral.

- Saudade... Ela não conseguiu ver o sepultamento que ela tanto cobrava. Me senti impotente. É doloroso e difícil. Muito difícil - desabafou Roberto, emocionado.

Procurada pela imprensa, a Defensoria Pública carioca informa que só pode se pronunciar sobre o assunto quando tiver acesso ao processo, que está na Vara de Registros Públicos. A seu turno, o Tribunal de Justiça diz que a juíza que está cuidando do caso, Lindalva Soares Silva, está de férias e que o tribunal só vai se manifestar ao ter acesso ao conteúdo da decisão dela. O Hospital Rocha Faria mantém sua posição: o corpo não pode ser liberado sem identificação. Uma vergonha!

Se o Brasil fosse um país sério, os responsáveis por tamanho descaso e desrespeito ao ser humano já estariam na cadeia. Duvido que algo parecido aconteceria com o parente de um figurão político ou do próprio Judiciário. Não dá para acreditar que o Tribunal de Justiça, por exemplo, só possa se manifestar sobre o assunto quando tiver acesso à decisão da juíza encarregada do processo, que está de férias. Ela não tem substituto? Quando ela saí de férias ou tem uma dor de barriga, a Vara de Registros Públicos que ela comanda pára? O cartório não tem um funcionário capaz de localizar o processo e o enviar a alguma autoridade que possa resolver o problema, já que a meritíssima doutora Lindalva Soares está de férias? E os salários pagos a essa gente? Afinal, quem pode socorrer o cidadão de bem em uma hora como essa? Onde estão as famosas "comissões de defesa das minorias oprimidas"? Será que elas só existem para os bandidos? Onde se enfiou o presidente do Tribunal de Justiça do Rio? Cadê o governador dessa cidade que chamam de "maravilhosa"? Alguém me diga, por favor, que país é esse?


Fonte: G1



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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