08 outubro 2011

"Zorra Total" e "Fina Estampa" são os novos alvos do governo federal

Já mostramos aqui no Dando Pitacos, e toda a mídia noticiou, que a Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM, da Presidência da República, tentou suspender a campanha da Hope protagonizada pela modelo brasileira Gisele Bündchen, argumentando que "a propaganda promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas. Também apresenta conteúdo discriminatório contra a mulher, infringindo os artigos 1° e 5° da Constituição Federal", iniciativa repudiada por toda sociedade brasileira.

Dois outros problemas de suma gravidade e importância para a mulher brasileira, estão agora tirando o sono da ministra Iriny Lopes: a Valéria e a Janete, do Zorra Total, personagens que segundo ela ofendem o público feminino quando tratam o assédio sexual como uma questão vulgar, e o Baltazar (Alexandre Nero), que não se cansa de agredir e humilhar Celeste (Dira Paes) em Fina Estampa, novela da Globo.


Eu não vi o ofício, mas a internet vem noticiando que a nossa vigilante ministra enviou um ofício à emissora, em papel timbrado de sua secretaria, é claro, "sugerindo" que Celeste, diante de novas agressões, procure a Rede de Atendimento à Mulher por meio do telefone 180 e denuncie Baltazar, que não deve ser apenas punido como acontece em outras novelas, mas encaminhado aos centros de reabilitação previstos na Lei Maria da Penha.

Valéria e a Janete, do Zorra Total


Baltazar e Celeste, de Fina Estampa


Em seu Twitter, Aguinaldo Silva, o autor da trama, teria postado: "Ira-ny, a insaciável, agora quer ser co-roteirista de Fina Estampa". A Globo também se manifestou, e numa carta enviada à ministra, assinada por Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, esclareceu:

"Entendemos que seu ofício não representa uma tentativa de coibir a liberdade de expressão, mas sim uma colaboração dentro do espírito de parceria que tem marcado nosso relacionamento. Bem exemplificado na recente campanha que criamos, produzimos e veiculamos sobre violência contra a mulher. Coincidentemente baseada em outra novela nossa "Mulheres Apaixonadas". Ali também, como quase sempre, foi necessário focar o lado negativo antes de se construir o desenlace.

Na verdade, a sintonia é tamanha que sua sugestão chega quando os capítulos com desenvolvimento dessa trama em "Fina Estampa" já foram produzidos com boa antecedência. Como se trata de novela, tomo a liberdade de não antecipar esses desdobramentos para não frustrar os telespectadores. Mas com certeza a ficção e a liberdade de expressão estarão em consonância com que se espera, aí sim, no mundo real".

Acho que o governo federal está chegando muito perto da censura e se envolvendo onde não deveria, até porque como disse Tony Goes em sua coluna para o F5, "o controle remoto é muito mais eficaz do que qualquer tesoura. Abusos sempre serão cometidos, mas calar alguém à força é um abuso ainda maior".

O último Censo Demográfico divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE mostrou que o Brasil passou a ter quase 4 milhões de mulheres a mais do que homens nos últimos dez anos. Ou seja, numa população de 190 milhões de indivíduos, mais de 80 milhões são do sexo feminino. A relação entre os gêneros, segundo o estudo, é de 96 homens para cada 100 mulheres.

Segundo dados atualizados sobre os Serviços de Atendimento à Mulher disponíveis no país, fornecidos pela própria Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM, da Presidência da República, apesar de seus mais de 5.500 municípios, o Brasil tem apenas


190 Centros de Referência (atenção social, psicológica e orientação jurídica)
72 Casas Abrigo
466 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
93 Juizados Especializadas e Varas adaptadas
57 Defensorias Especializadas
21 Promotorias Especializadas
12 Serviços de Responsabilização e Educação do Agressor
21 Promotorias/Núcleos de Gênero no Ministério Público.


A primeira providência da ministra, ao invés de se preocupar com os holofotes da mídia, deveria ser a melhoria da ridícula rede de atendimentos contra a violência hoje posta a serviço da mulher brasileira. Seria importante, também, que ela deixasse seu gabinete refrigerado e visitasse alguns Estados da Federação onde, além da agressão doméstica, a mulher sofre com a violência que brota das ruas em face da impunidade e a discriminação e assédio em seus locais de trabalho. Pior que isso, só as milhares de mulheres-meninas jogadas na prostituição no interior do país e nos semáforos das avenidas de nossas principais cidades. Sobre este assunto eu ainda não ouvi nenhum comentário da ministra. E você?



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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